O Colunista Gustavo Cerbasi,
da Revista Época escreveu uma coluna muito apropriada sobre o hábito dos
brasileiros de em vez de aproveitar uma viagem como uma maneira de aprimorar sua
cultura, só pensa em comprar. O normal quando um brasileiro chega do exterior
não é os amigos e parentes perguntarem o que conheceram mas o que compraram.
Está é a maior curiosidade. Temos que mudar!
Leiam a cronica de Gustavo,
e vão saber porque não estão fazendo um negócio tão bom como imaginam. Os
tempos mudaram!
Mais cultura, menos muamba
GUSTAVO CERBASI
03/07/2013 17h08 - Atualizado em 01/10/2013 17h17
Há tempos o
turismo de compras faz parte da rotina da parcela mais abastada da classe média
brasileira, estimulado por nossa moeda valorizada. Os destinos favoritos são
tradicionais centros turísticos dos Estados Unidos, principalmente Miami,
Orlando e Nova York – cidades com oferta de voos e passagens a
preços competitivos.
É fácil entender a febre consumista. Impostos altos por aqui, escala de consumo
maior lá fora, incapacidade da indústria brasileira de alcançar padrões
internacionais de qualidade e limitações no contingente da Receita Federal para
uma fiscalização eficaz fazem das compras uma escolha fácil.
Mas quem se
habituou a voltar de malas abarrotadas tem trazido cada vez menos mercadorias
do exterior. Comprar nos EUA já foi mais fácil e vantajoso do que é hoje. Há
cinco anos, os outlets ofereciam descontos de mais de 70% em relação aos preços
nos shopping centers de lá.
É fácil entender tamanho desconto. Na temporada, os
produtos chegavam aos shoppings com preço cheio. Os americanos, ávidos consumistas,
compravam as novas coleções. Quando mais nenhum nativo queria aquela moda, as
sobras iam para os outlets, para satisfazer os turistas a preços menores. As
sobras dos outlets iam para as lojas de pontas de estoque, onde as pechinchas
eram maiores ainda.
A crise de 2008
transformou esse modelo consumista. Com o aumento do desemprego e a queda da
renda, os americanos diminuíram o consumo nos shoppings. As sobras de coleções
cresceram em volume, ao mesmo tempo que os lucros das marcas caíram.
Como consequência,
os outlets continuam atraindo turistas, mas as promoções raramente trazem
descontos maiores que 30% ou 40%. Os consumidores locais também passaram a
consumir nos outlets. Quem viajou recentemente percebeu isso nos
estacionamentos superlotados. Pela lei da oferta e da procura, onde há maior
consumo, há maior preço.
Comprar lá ainda é
muito mais barato do que aqui. Mas não é mais um ótimo negócio, quando se leva
em consideração a alta dos preços das passagens e dos hotéis, causada,
principalmente, pelo denso fluxo de brasileiros. Os supermercados de lá são bem
mais baratos que os daqui, mas não é sensato viajar milhares de quilômetros
para encher o carrinho. Os eletrônicos continuam uma pechincha, mas é neles que
a Receita Federal concentra seu pente fino.
Há que ponderar se
algumas centenas de reais economizados em roupas e eletrônicos justificam
deixar as atrações culturais de lado. Talvez as viagens dos brasileiros já
estejam trazendo na bagagem um pouco mais de cultura e menos muamba.
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