Hoje (19), a página inicial
do Google surpreendeu quem
gosta de artes. O Doodle, que é
a estilização do logotipo do buscador, traz uma homenagem ao aniversário de 200
anos do Museu do Prado, o maior da Espanha e um dos mais importantes do
mundo. A instituição cultural, abriu as portas em Madrid em 1819.
A criatividade encontrada pelo
Google para homenagear a instituição é bem interessante: o doodle se
transformou em uma espécie de parede de museu, onde é possível ver sete obras.
Os trabalhos que estão nas laterais trazem as letras que formam o nome da
empresa de tecnologia e fazem referência a trabalhos que pertencem ao acervo do
museu. É possível identificar ali O Cavaleiro Com a Mão No
Peito (1584), de El Greco (1541-1614), e Carlos V na Batalha de
Mülberg (1548), de Ticiano (1490-1576). No centro, há uma tela que traz o
prédio da instituição espanhola, que foi projetado por Juan de Villanueva
(1739-1811), grande nome da arquitetura neoclássica do país.
O Museu do Prado é parada
obrigatória para quem visita Madri. Localizado no Circuito del Arte, próximo do
Museo Reina Sofía e outros museus, o prédio ocupa quase uma quadra inteira de
uma das principais avenidas da capital espanhola, a Paseo del Prado. Dada a
extensão do local, a organização oferece planos de visita que vão de uma a três
horas de passeio, a depender do que o visitante deseja ver.
O destaque é a coleção de
Francisco Goya, um dos principais artistas europeus da Idade Contemporânea e
que era vivo na época da inauguração do Museu. Desde novembro de 2018, quando
foram iniciadas as comemorações do bicentenário, visitantes puderam explorar
133 pinturas e 500 desenhos, entre outros documentos sobre o pintor. Entre elas
estão o acervo do próprio Prado, assim como obras emprestadas pelo Palácio
Real.
5 enigmas de 'As Meninas',
de Velázquez o mais icônico quadro do Museu do Prado
"Tem todos os
ingredientes para que especulemos sobre ele por séculos e séculos."
Essas são palavras usadas por
Javier Portús Pérez, um especialista em arte que aparece no documentário
espanhol” El Cuadro, Historias de Las Meninas”, de Andrés Sanz. Com ares
de thriller, o filme reúne especialistas que tentam decifrar os mistérios
guardados no quadro As Meninas, de Diego Rodríguez de Silva y Velázquez
(1599-1660).
Mais de 360 anos após ser
pintado, o quadro ainda desperta divergência sobre o que o artista de Sevilha quis
representar ao executar a obra.
Para quem Velázquez está
olhando? O que ele está pintando na tela à esquerda do quadro? O que fazem os
demais personagens?
1. A sala e o
posicionamento do espectador
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Infanta Margarita é um dos
poucos elementos de luminosidade de toda a composição
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O quadro As
Meninas está ambientado no estúdio de Velázquez, na Real Alcázar de Madri,
uma fortaleza convertida em palácio real onde vivia o rei Felipe IV (1621-1665)
com sua família. A sala está repleta de personagens que não estão lá por acaso.
A diferença desse quadro para
os retratos tradicionais da realeza é que o quadro As Meninas se
compara com uma cena de um filme, pela ação e o movimento que contém. Além
disso, a incomum presença do próprio pintor no quadro, ao fundo, olhando na
direção do espectador, aumenta ainda mais o enigma em torno dele.
O que não se sabe com certeza
é o que o pintor quis expressar com essa técnica original.
2. Os personagens e a
interação entre eles
As Meninas nem sempre
teve esse nome. Velázquez deu ao quadro o nome de A Família de Felipe IV.
O nome atual da obra surgiu em 1843, quando os especialistas de arte da época
chegaram ao consenso de que a pintura ia muito além de um simples retrato da
família real.
E o quadro As Meninas tem um elenco de
personagens que incluem uma princesa, uma freira, uma anã, um bobo da corte e o
próprio Velázquez.
No centro da cena está a infanta (princesa) Margarita
Maria Teresa de Áustria. A princesa era quarta filha de Felipe IV, mas a
primeira que ele teve com sua segunda esposa, Mariana de Áustria. No quadro,
ela parece ter cinco ou seis anos de idade. Ao lado dela estão as mulheres que
acompanhavam e assistiam à jovem princesa em sua rotina diária.
Atrás delas há uma monja, que parece estar discutindo com
um guarda não identificado. No centro da parede ao fundo há uma porta aberta
pela qual dá para ver um homem numa escada encarando o espectador. É José Nieto
Velázquez, camareiro da rainha que também estava encarregado da oficina de
tapeçaria.
Por fim, no talvez mais
importante elemento de toda a composição, há um espelho à esquerda da porta, no
qual vemos o reflexo de um casal: o rei Felipe IV e a rainha Mariana. Alguns
dos especialistas da obra afirmam que os reis estão em pé (refletidos no
espelho) no mesmo lugar em que os espectadores estão, enquanto Velázquez pinta
seu retrato.
Não sabemos o que está
acontecendo ou o que reúne essa variedade de personagens no mesmo lugar. Não
sabemos se Velázquez está fazendo um retrato da infanta ou dos reis que são
refletidos. Nem sabemos se há algo pintado em sua tela.
3. O reflexo no espelho
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Rei
Felipe IV e rainha Mariana de Áustria refletidos no espelho ao fundo |
As teorias em torno do espelho e de seu reflexo fazem com
que este seja um dos principais mistérios que persistem ao longo do tempo.
Os especialistas não têm certeza se ele reflete mesmo o
casal real ou se seria um outro casal pintado na tela em que Velázquez
trabalha.
Devido à maneira com que o artista brincou com a
perspectiva da imagem, argumentos razoáveis podem ser feitos para justificar
as duas possibilidades.
4. A cruz de Santiago e a controvérsia das datas
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Cruz de Santiago alimenta
discussões sobre a real data de produção da obra
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Na pintura, Velázquez veste um
elegante terno preto com uma cruz vermelha de Santiago no peito.
Este símbolo é indicativo do
título de Cavaleiro, que o rei Felipe IV concedeu a Velázquez somente em 1659.
Como é possível, então, que a
cruz figure ali três anos antes de ele ser incluído na Ordem de Santiago?
Alguns acadêmicos insinuam que
a cruz vermelha foi adicionada à tabela mais tarde por instruções do rei.
Outros especialistas que
examinaram a pintura garantem não haver duas camadas diferentes de tinta.
Portanto, a cruz fazia parte da imagem original — levando a novas teorias.
Embora a maioria dos acadêmicos
continue datando a pintura em 1656, outra corrente de historiadores coloca a
criação da obra alguns anos depois, em 1659.
Outra possibilidade, que surge
em estudos mais recentes, é que toda a cena é um produto da imaginação e
fantasia do pintor, de modo que o fato de aparecer com a cruz de Santiago
poderia muito bem ser a expressão de um desejo.
5. O papel de Velázquez
“As Meninas” ficou guardado no Palácio Real até
1819, data em que foi transferido ao Museu do Prado.
Alguns poucos privilegiados
que o viram antes da transferência comentaram a novidade na qual um pintor se
retratava ao lado da realeza.
"A imagem parece mais um
retrato de Velázquez do que da imperatriz", disse o escritor português
Felix da Costa ao ver As
Meninas em 1696.
Se você olhar de perto, ele
parece ser o grande protagonista da peça. Seu papel preponderante na imagem é
inquestionável.
Para alguns estudiosos, isso
mostra uma antiga reivindicação dos artistas do século 16, que queriam que seu
ofício fosse mais valorizado. Até então, eram vistos como meros artesãos,
considerados inferiores a escritores ou músicos.
Velázquez queria permanecer na
história com esta obra-prima. E, vendo as teorias e debates que gera, não há
dúvida de que conseguiu.
fonte: BBC News Mundo
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