“São Pedro do Sul foi escolhido para a realização do fórum, pois está em meio à região inicial do processo de cristianização”
Nos dias 1º e 2 de março de, historiadores, geógrafos e pesquisadores de outras ciências afins estarão
reunidos no município de São Pedro do Sul/RS, para nivelar conhecimento sobre o
início da cristianização no Sul do Brasil.
O evento conta com apoio da
Universidade Federal de Santa Maria, da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, da UNISINOS, UNESCO e organizações locais e estaduais como no
caso do Grande Projeto Missões que une mais de 300 pesquisadores em torno
destes conhecimentos científicos.
O Projeto Missões
Jesuítico-Guarani visa o desenvolvimento regional com foco no turismo cultural
criando as condições para atrair os turistas e mantê-los por mais tempo nas
regiões missioneiras. A expectativa é de que a partir da implantação do projeto
em 2030, estas regiões recebam até um milhão de turista por ano.
O
projeto visa o desenvolvimento do turismo nas regiões ligadas as Missões
Jesuíticas-Guarani, entre elas, São Pedro do Sul. Os pesquisadores buscam
determinar a localização aproximada das Reduções de São Tomé, São Miguel do
Itaiacecó e São José do Itaquatiá (cerca 1632-1636), abandonadas após atividade
predatória dos bandeirantes paulistas. Essa localização está sendo feitas a
partir de estudos das fontes históricas e possíveis escavações arqueológicas em
alguns pontos entre os quais, a Pedra Grande, localizada no interior do
município de São Pedro do Sul, considerado o maior painel rupestre da
região sul do Brasil. Os objetos que
foram encontrados no sítio arqueológico da Pedra Grande garantem que ali houve
uma missão jesuítica da primeira fase, ou São Miguel do Itaiacecó ou a de São
José do Itaquatiá.
Sobre as
Missões Jesuíticas Guaranis
As Missões Jesuíticas dos Guaranis formaram 30 reduções que era um tipo
de estrutura colonial prevista para os indígenas, eram povos nos quais
congregavam vários cacicados. O novo espaço colonial urbanizado a modo dos
povos de espanhóis, porém sem espanhóis morando neles, devia facilitar a
instrução religiosa, a vida “política e humana” e a agricultura. Os
missioneiros eram de fato os representantes da administração colonial, sendo os
principais responsáveis da programação da vida cristã e política. As reduções
dos jesuítas lograram desenvolver uma certa autonomia, evitando a submissão aos
“encomendeiros” e até a entrada de espanhóis no território dos povos guaranis.Painel rupestre de Pedra Grande
Em sua fase final estiveram
distribuídas em número de sete reduções do lado brasileiro, quinze na Argentina
e oito no Paraguai. Alcançaram grande desenvolvimento: foram concebidas e
fabricadas as ferramentas necessárias. Muito rapidamente, as reduções
constituíram o conjunto agrícola mais completo e melhor organizado da América.
Todas as profissões artesanais tinham sido introduzidas e prosperavam.
Fabricavam relógios, clarinetes, trompetes e tantos outros como nas melhores
fábricas da Europa. Os principais artigos exportados pelas reduções eram o
mate, o fumo, o algodão, o açúcar, os tecidos de algodão, os bordados, as
rendas, os objetos trabalhados em torno, mesas, armários, e baús de madeiras
preciosas, esculturas, peles, curtumes e arreios de couro, rosários e
escapulários, mel, frutas de todas as espécies, cavalos, mulas, e carneiros,
assim como e excedente de diversas indústrias, como a de instrumentos musicais.
Todos eram vendidos à Europa, Corrientes, Santa Fé, Buenos Aires e Peru.
Sobre o evento
O evento estará analisando o início de todo o processo de cristianização, especialmente do lado brasileiro, em que naquele momento foram fundadas 18 reduções. A população nativa foi encontrada em seu estado nativo e culturalmente vivendo suas milenaridades.
O
modo de como os jesuítas foram conectando sua cultura europeia ao modo de vida
dos indígenas será um dos focos das apresentações, bem como a localização das
igrejas e comunidades para fixar cartograficamente estes territórios.
Aquele processo reducional iniciado em 1626 na atual área brasileira foi toda expulsa pelos
Bandeirantes entre 1637 a 1640, pois buscavam os cristãos indígenas como
escravos para suas lavouras. Os reflexos para os acontecimentos futuros como o
retorno a partir de 1682 e inclusive a análise sobre esses descendentes na
atualidade nos povos da América Latina farão parte dos debates.
São Pedro do Sul foi escolhido para a realização do fórum, pois está em meio à região inicial do processo de cristianização reducional daquela primeira fase.
Serão realizadas palestras
específicas pelos pesquisadores e lançamentos de livros sobre a temática.
A cidade distante 36 km de
Santa Maria, está situada em uma região privilegiada, com fósseis animais,
fósseis vegetais, uma natureza exuberante, um povo acolhedor e uma cultura que
se impõe pela presença de descendentes de imigrantes alemães, de portugueses,
de indígenas e de italianos.
As inscrições são gratuitas e haverá link de transmissão de todo o evento. Maiores informações podem ser obtidas no Whasapp +555532766145
Missões
Jesuíticas, a realização de uma grande utopia
Sitio Arqueológico São João Batista |
Até o Tratado de Madri, assinado em 13 de janeiro de 1750, a região onde
hoje se encontra o Rio Grande do Sul - e na época os Sete Povos das Missões -
pertencia à Coroa espanhola, que com a permuta da Colônia do Sacramento,
no Uruguai, passou à Coroa portuguesa.
A Redução jesuítica de São Miguel fazia parte de um amplo projeto
iniciado ainda em 1609, com a primeira redução, San Ignácio Guazú, onde hoje é
o Paraguai.
Um grande grupo de pesquisadores vem trabalhando já há alguns anos para
reconstruir em detalhes essa rica história, também marcada por dicotomias. E à
medida que as pesquisas avançam, descobrem o quanto ainda tem a ser descoberto
em todo esse processo.
Esse grande “projeto de fraternidade” protagonizado pelos jesuítas com
os guaranis, foi considerado como a realização de uma grande utopia, inspirando
escritores como Voltaire, Charles Montesquieu, Ludovico Antonio Muratori,
Charlevau, entre outros. Segundo o pesquisador e escritor José Roberto de
Oliveira, “os próprios Jesuítas chegaram a dizer que foi a verdadeira
realização do cristianismo”.
fotos: divulgação