Preparativos, desafios e perspectivas
dos megaeventos são o tema de entrevista com o ministro do Turismo
A 100 dias da Olimpíada, o
recém-empossado ministro do Turismo, Alessandro Teixeira falou com a Agência de
Notícias do Turismo. A entrevista abordou temas polêmicos como o eventual
impacto da crise política e do surto de Zika Vírus às vésperas da Olimpíada e
Paraolimpíada. O ministro aponta o turismo como uma alternativa para o Brasil
retomar o desenvolvimento da economia.
ANT: O Brasil está
preparado para receber a Olimpíada e Paraolimpíada?
AT: Os governos federal,
estadual e municipal do Rio de Janeiro têm se esforçado para organizar um
evento memorável. Posso afirmar tranquilamente que o Brasil realizará um dos
melhores jogos olímpicos de todos os tempos pela experiência acumulada em
diversos eventos com públicos distintos. Estou falando da Rio+20, Jornada
Mundial da Juventude, primeiro contato com o grande público do Papa Francisco,
Copa do Mundo e a Fórmula 1, sendo as últimas duas edições das provas de
automobilismo consideradas as mais bem organizadas de todo o campeonato numa
eleição entre pilotos e equipes, um público altamente exigente.
ANT: A instabilidade
política do país e troca em importantes pastas ministeriais como o próprio
Ministério do Turismo não prejudica a realização dos jogos?
AT: Os principais
emissores do mundo já passaram por momentos de acomodação política e sabem que
esse é um processo natural nas democracias. Realizamos a Copa das Confederações
em meio a diversos protestos de grandes proporções e não registramos nenhuma
ocorrência de destaque, nenhum incidente que maculasse a imagem do país. Pelo
contrário, reforçamos a nossa reputação de país acolhedor, com uma cultura
diversa e natureza extraordinária, reconhecida pelo Fórum Econômico Mundial
como a número 1 do mundo. Em uma pesquisa feita na ocasião, 9 em cada 10
turistas aprovaram a experiência no Brasil.
Quanto à troca no comando do
Ministério do Turismo, tenho certeza de que se houver algum impacto na
realização de jogos, ele será positivo. Devemos lembrar que às vésperas da Copa
do Mundo, a pasta ministerial passou das mãos dos ex-ministros Gastão Vieira
para Vinicius Lages. O fato só comprova que o MTur tem um corpo técnico
competente e uma agenda sólida, como pude comprovar nos primeiros contatos com
os colaboradores. Chego para agregar.
ANT: Como o senhor
pretende ajudar contribuir para as preparações dos Jogos Olímpicos e o
turismo?
AT: Vim da área
econômica. Nas presidências da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial
(ABDI), da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex)
e da Associação Mundial das Agências de Promoção de Investimentos tive um
contato muito próximo com o setor produtivo. Nas secretarias-executivas do
Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) também tive uma interlocução
estreita com empresários de diversos setores. Acredito que o turismo tem muito
a ganhar com a profissionalização da relação entre o mercado e o governo com
foco na construção de um ambiente de negócios favorável para o investimento, se
construirmos junto uma agenda de desenvolvimento econômico por meio do setor de
viagens. Esse é o desafio e os Jogos Olímpicos nos darão um impulso especial
para alcança-lo.
ANT: Os surtos de Zika
Vírus e, mais recentemente, H1N1, não afetam a Olimpíada e Paraolimpíada?
AT: O Ministério do
Turismo, em conformidade com as orientações do Ministério da Saúde e das
declarações e da Organização Mundial da Saúde (OMS), reitera que não há
restrição de viagens para regiões com transmissão do vírus Zika. O Governo
Federal, em parceria com estados e municípios, adotou diversas medidas que
visam proteger não só os brasileiros, mas também os estrangeiros que vierem ao
país para os jogos olímpicos. Cabe ressaltar que o período em que serão
realizados os Jogos Olímpicos e Paralímpicos é considerado não endêmico para
transmissão de doenças causadas pelo Aedes aegypti, como zika, dengue e
chikungunya. Em 2015, agosto foi o mês com menor incidência de casos de dengue
no país.
Para esclarecimento aos
turistas, o Ministério do Turismo disponibiliza em sua página na internet
informações sobre saúde do viajante. O conteúdo, disponível nos idiomas
português, inglês, espanhol e francês é produzido e atualizado constantemente
pelo Ministério da Saúde. As redes sociais da pasta também estão engajadas para
levar mais informações sobre o assunto para os usuários, com produção de
conteúdo próprio sobre o tema e compartilhamento de publicações do Ministério
da Saúde.
Para o combate ao H1N1, o
governo federal está realizando uma grande campanha de vacinação gratuita.
Serão imunizadas crianças de 6 meses a 5 anos, gestantes, idosos, profissionais
da saúde, povos indígenas e pessoas portadoras de doenças crônicas ou outras
doenças que comprometam a imunidade.
ANT: O que o Brasil tem
feito para promover o megaevento, atrair mais turistas internacionais, estimular
o turismo doméstico e otimizar o ganho do país com os jogos nesse contexto de
recessão econômica que o país vive?
AT: Os megaeventos têm
sido o principal mote da participação do Brasil nas maiores feiras de turismo
do mundo e outros eventos internacionais desde 2015. O então Ministro do
Turismo, Henrique Eduardo Alves, participou de uma intensa agenda internacional
com ações de relações públicas sempre com o objetivo de convidar agentes e
operadores de viagem, autoridades e o público final para participar da
Olimpíada e Paralimpíada 2016. O tema foi tratado em missões oficiais para os
EUA, Croácia, Itália, Polônia e Rússia, Londres, Espanha, Portugal e França.
Além disso, temos investido no
relacionamento com a imprensa internacional para convidar o mundo a participar
da Olimpíada e Paralimpíada 2016, por meio da mídia espontânea. Nesse sentido
foram publicados artigos do ministro Henrique Eduardo Alves no Huffington Post
nos EUA, El Pais – versão mundial e espanhola, e o Público, em Portugal. A Embratur
também tem realizado press trips em parceria com a Secretaria de
Comunicação da Presidência da República, ações promocionais junto com o
Ministério das Relações Exteriores nas embaixadas de países estratégicos e
trabalha nas redes sociais para atrair o público final para o maior evento do
mundo. A lógica que impera é fazer mais com menos, por isso o uso das redes
sociais e da mídia espontânea.
A próxima etapa inclui a
divulgação de campanhas de marketing nos países beneficiados com a isenção de
vistos de 1º de junho a 18 de setembro: Canadá, EUA, Japão e Austrália.
ANT: Qual a expectativa
do turismo com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos?
AT: O Brasil deve receber
até 500 mil turistas estrangeiros no período dos jogos Olímpicos e
Paralímpicos. É importante ressaltar que, para além da atração de turistas
internacionais, os megaeventos expõem o Brasil para o mercado mundial. As
competições acabam, mas o ganho de imagem permanece. Temos de lembrar que
teremos, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional, 25 mil profissionais de
mídia projetando imagens do Brasil para todo o mundo.
ANT: Essa expectativa
inclui o incremento que pode ser gerado com a isenção de vistos para Estados
Unidos, Canadá, Japão e Austrália?
AT: Sim. De acordo com a
Organização Mundial do Turismo, a facilitação de viagens pode gerar um aumento
de até 20% no fluxo entre os destinos. Se fizermos as contas, a isenção de
visto para essas quatro nacionalidades pode gerar um acréscimo aproximado de 75
mil turistas internacionais e a injeção de US$ 80 milhões na economia
brasileira.
ANT: Os ganhos com os
megaeventos, ficarão restritos ao Rio de Janeiro?
AT: O desafio do governo
federal é nacionalizar o evento. Temos no revezamento da tocha a principal
oportunidade para projetar destinos de todas as regiões e estados brasileiros
para o mundo. A chama olímpica irá percorrer 20 mil quilômetros por estradas e
ruas brasileiras e mais 10 mil milhas aéreas. Nesse roteiro, que será
transmitido para todo o planeta, mais de 300 cidades irão revelar sua
gastronomia, cultura e belezas naturais.
ANT: A Olimpíada encerra
um ciclo de megaeventos. E depois, quais as ações previstas para manter o
turismo aquecido e o Brasil entre os destinos desejados no mundo?
AT: A exemplo do que
ocorreu na Espanha, em Portugal e até nos Estados Unidos, o turismo tem tudo
para ajudar o Brasil a fazer frente à crise econômica. Para isso temos
enfrentado os principais gargalos do setor: como qualificação, infraestrutura e
sinalização. Atualmente 4,3 mil municípios são beneficiados com obras de
infraestrutura turística, num valor total de quase R$ 9 bilhões. Mas é preciso
mais. Temos de enfrentar gargalos históricos do setor, melhorar o ambiente de
negócios no país para permitir que o mercado desenvolva todas as
potencialidades do setor. Nesse sentido, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves
apresentou à Casa Civil um projeto de lei que cria áreas especiais de interesse
turístico, locais com licenciamento diferenciado e crédito facilitado para o
investidor. Os marcos regulatórios do setor como a própria Lei Geral do Turismo
também precisam ser atualizados. Só assim conseguiremos aproveitar todas as
nossas vantagens e gerar emprego e renda.
ANT: Mesmo no ano da Copa
Mundo, o Brasil recebeu menos de 6,5 milhões de turistas internacionais e
faturou menos de US$ 7 bilhões com o setor. Os dados não são pequenos diante
das potencialidades do país?
AT: Sim, com certeza. Os
valores são irrisórios perto do nosso potencial. O México, por exemplo, fatura
US$ 17 bilhões com o turismo, sendo que Cancun, responde por US$ 11 bilhões,
mais que o Brasil. Para conseguirmos alavancar tanto o quantitativo de turistas
que recebemos quanto o montante deixado pelo visitante internacional, temos de
olhar o setor de turismo com mais atenção. Ampliar os investimentos em promoção
internacional para aumentar a vida útil da mídia espontânea conquistada na
Olimpíada e colocar em definitivo o Brasil na lista de desejos dos principais
emissores de turistas do mundo. Para usar novamente o exemplo do México, o
investimento em promoção internacional daquele país é de US$ 490 milhões,
enquanto o Brasil destina menos de US$ 20 milhões para a mesma finalidade. É
preciso entender que a promoção internacional é um investimento, não gasto. Tem
diversos estudos que indicam que para cada US$ 1 destinado para divulgar
determinado destino outros US$ 4 retornam para ele.
Foto: Paulino Menezes/Ascom
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