segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

1º Fórum Histórico e Geográfico da primeira fase missioneira

“São Pedro do Sul foi escolhido para a realização do fórum, pois está em meio à região inicial do processo de cristianização”

Nos dias 1º e 2 de março de, historiadores, geógrafos e pesquisadores de outras ciências afins estarão reunidos no município de São Pedro do Sul/RS, para nivelar conhecimento sobre o início da cristianização no Sul do Brasil.

O evento conta com apoio da Universidade Federal de Santa Maria, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, da UNISINOS, UNESCO e organizações locais e estaduais como no caso do Grande Projeto Missões que une mais de 300 pesquisadores em torno destes conhecimentos científicos.

O Projeto Missões Jesuítico-Guarani visa o desenvolvimento regional com foco no turismo cultural criando as condições para atrair os turistas e mantê-los por mais tempo nas regiões missioneiras. A expectativa é de que a partir da implantação do projeto em 2030, estas regiões recebam até um milhão de turista por ano.

O projeto visa o desenvolvimento do turismo nas regiões ligadas as Missões Jesuíticas-Guarani, entre elas, São Pedro do Sul. Os pesquisadores buscam determinar a localização aproximada das Reduções de São Tomé, São Miguel do Itaiacecó e São José do Itaquatiá (cerca 1632-1636), abandonadas após atividade predatória dos bandeirantes paulistas. Essa localização está sendo feitas a partir de estudos das fontes históricas e possíveis escavações arqueológicas em alguns pontos entre os quais, a Pedra Grande, localizada no interior do município de São Pedro do Sul, considerado o maior painel rupestre da região sul do Brasil. Os objetos que foram encontrados no sítio arqueológico da Pedra Grande garantem que ali houve uma missão jesuítica da primeira fase, ou São Miguel do Itaiacecó ou a de São José do Itaquatiá.

Sobre as Missões Jesuíticas Guaranis

Painel rupestre de Pedra Grande
As Missões Jesuíticas dos Guaranis formaram 30 reduções que era um tipo de estrutura colonial prevista para os indígenas, eram povos nos quais congregavam vários cacicados. O novo espaço colonial urbanizado a modo dos povos de espanhóis, porém sem espanhóis morando neles, devia facilitar a instrução religiosa, a vida “política e humana” e a agricultura. Os missioneiros eram de fato os representantes da administração colonial, sendo os principais responsáveis da programação da vida cristã e política. As reduções dos jesuítas lograram desenvolver uma certa autonomia, evitando a submissão aos “encomendeiros” e até a entrada de espanhóis no território dos povos guaranis.

Em sua fase final estiveram distribuídas em número de sete reduções do lado brasileiro, quinze na Argentina e oito no Paraguai. Alcançaram grande desenvolvimento: foram concebidas e fabricadas as ferramentas necessárias. Muito rapidamente, as reduções constituíram o conjunto agrícola mais completo e melhor organizado da América. Todas as profissões artesanais tinham sido introduzidas e prosperavam. Fabricavam relógios, clarinetes, trompetes e tantos outros como nas melhores fábricas da Europa. Os principais artigos exportados pelas reduções eram o mate, o fumo, o algodão, o açúcar, os tecidos de algodão, os bordados, as rendas, os objetos trabalhados em torno, mesas, armários, e baús de madeiras preciosas, esculturas, peles, curtumes e arreios de couro, rosários e escapulários, mel, frutas de todas as espécies, cavalos, mulas, e carneiros, assim como e excedente de diversas indústrias, como a de instrumentos musicais. Todos eram vendidos à Europa, Corrientes, Santa Fé, Buenos Aires e Peru.

 Sobre o evento

O evento estará analisando o início de todo o processo de cristianização, especialmente do lado brasileiro, em que naquele momento foram fundadas 18 reduções. A população nativa foi encontrada em seu estado nativo e culturalmente vivendo suas milenaridades. 

O modo de como os jesuítas foram conectando sua cultura europeia ao modo de vida dos indígenas será um dos focos das apresentações, bem como a localização das igrejas e comunidades para fixar cartograficamente estes territórios.

Aquele processo reducional iniciado em 1626 na atual área brasileira foi toda expulsa pelos Bandeirantes entre 1637 a 1640, pois buscavam os cristãos indígenas como escravos para suas lavouras. Os reflexos para os acontecimentos futuros como o retorno a partir de 1682 e inclusive a análise sobre esses descendentes na atualidade nos povos da América Latina farão parte dos debates.

São Pedro do Sul foi escolhido para a realização do fórum, pois está em meio à região inicial do processo de cristianização reducional daquela primeira fase. 

Serão realizadas palestras específicas pelos pesquisadores e lançamentos de livros sobre a temática.

A cidade distante 36 km de Santa Maria, está situada em uma região privilegiada, com  fósseis animais, fósseis vegetais, uma natureza exuberante, um povo acolhedor e uma cultura que se impõe pela presença de descendentes de imigrantes alemães, de portugueses, de indígenas e de italianos.

As inscrições são gratuitas e haverá link de transmissão de todo o evento. Maiores informações podem ser obtidas no Whasapp +555532766145

Missões Jesuíticas, a realização de uma grande utopia

Sitio Arqueológico São João Batista
O Rio Grande do Sul abriga o único Patrimônio Mundial da UNESCO do sul do país, a Igreja de São Miguel Arcanjo, localizada no município de São Miguel das Missões.

Até o Tratado de Madri, assinado em 13 de janeiro de 1750, a região onde hoje se encontra o Rio Grande do Sul - e na época os Sete Povos das Missões - pertencia à Coroa espanhola, que  com a permuta da Colônia do Sacramento, no Uruguai, passou à Coroa portuguesa.

A Redução jesuítica de São Miguel fazia parte de um amplo projeto iniciado ainda em 1609, com a primeira redução, San Ignácio Guazú, onde hoje é o Paraguai.

Um grande grupo de pesquisadores vem trabalhando já há alguns anos para reconstruir em detalhes essa rica história, também marcada por dicotomias. E à medida que as pesquisas avançam, descobrem o quanto ainda tem a ser descoberto em todo esse processo.

Esse grande “projeto de fraternidade” protagonizado pelos jesuítas com os guaranis, foi considerado como a realização de uma grande utopia, inspirando escritores como Voltaire, Charles Montesquieu, Ludovico Antonio Muratori, Charlevau, entre outros. Segundo o pesquisador e escritor José Roberto de Oliveira, “os próprios Jesuítas chegaram a dizer que foi a verdadeira realização do cristianismo”. 

fotos: divulgação

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