sexta-feira, 19 de março de 2021

Passaporte de vacinação e o futuro das viagens internacionais

“A União Europeia já apresentou o  Certificado Verde Digital para salvar o verão”

Não bastasse amargar prejuízos estimados em US$3 trilhões, o setor de viagens de lazer vem tendo que lidar com um arsenal de protocolos sanitários . Na esteira, empresas já trabalham no desenvolvimento do que vem sendo chamado informalmente de “passaporte de vacinação”, documento para armazenar dados do viajante como imunização e testes contra a Covid-19.  Para especialistas afirmam este é um passo fundamental para voltarmos a viajar com segurança. 

Estar imunizado significa estar menos propenso a sofrer complicações da doença em caso de contágio e, a principal delas, é não precisar de hospitalização. “Se a pessoa for vacinada é improvável que desenvolva um quadro grave, tenha ela trazido o vírus do país de origem ou sido contaminada na primeira semana de férias”, disse ao The Guardian o médico Paul Hunter, professor na University of East Anglia, na Inglaterra.

Um documento que comprove a vacinação pode eliminar a necessidade de quarentena na chegada, hoje o maior entrave para a retomada do turismo internacional, disse ao The New York Times, Zurab Pololikashvili, secretário-geral da Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas. Quando o assunto é imunização pode haver posições ainda mais radicais: a companhia aérea Qantas anunciou que não aceitará em seus voos para a Austrália  passageiros que não tenham sido vacinados.

 O passaporte de vacinação

Imagine que um avião lotado aterrissou em um país que exija uma documentação específica referente à Covid-19. Cada passageiro carrega consigo um tipo de comprovante diferente. Um grupo possui uma carteira de vacinação, um outro tem em mãos um aplicativo e um terceiro traz apenas um certificado em papel emitido pelo órgão de saúde do país de origem. Como seguir um padrão de admissão sem grandes demoras?

O vice-presidente da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), Nick Careen, disse ao NYT que a ideia da criação de um passe eletrônico é uma “tentativa de digitalizar o que já acontece”. A maioria dos países já está exigindo a apresentação do teste negativo de Covid 19 para os viajantes, inclusive o Brasil. Brasileiros que visitam o Peru, a Colômbia, a África do Sul e a Tailândia tem que viajar com um Certificado Internacional da Vacina Contra a Febre Amarela. Um documento unificado inibiria fraudes e fecharia o cerco às empresas que vêm lucrando com a venda de exames de Covid-19 falsos

Países como  Dinamarca e Suécia começaram a desenvolver certificados digitais em que constam dados de imunização do cidadão e que servirão tanto para viagens quanto para admissão em eventos esportivos. Isso significa que daqui para frente estar vacinado também poderá ser um requisito para frequentar espaços públicos, como shows, festivais, feiras e campeonatos. 

 Aplicativos que estão em fase avançada de testes

A IATA Travel Pass representa cerca de 290 empresas aéreas que abrangem 82% do tráfego global, o que significa que a entidade tem grande influência na criação de novos protocolos. O IATA Travel Pass é um aplicativo de celular que armazena dados de imunização do viajante. Um teste piloto foi realizado pela Singapore Airlines em dezembro de 2020 em voos entre Singapura, Malásia e Indonésia. Passageiros que fizeram testes de Covid em clínicas selecionadas receberam certificados digitais ou em papel que puderam ser lidos por QR-code na hora do check-in. Um número cada vez maior de aéreas vem demonstrando intenção de usar o aplicativo, como a Emirates, a Etihad e a Qatar.

Desenvolvido por uma multinacional de tecnologia especializada em serviços para a indústria da aviação, o Health Protect é um aplicativo que também permite que companhias aéreas e passageiros compartilhem informações sobre exames de saúde ou vacinas. A ferramenta emite alerta ao passageiro sobre os requisitos que devem ser cumpridos no aeroporto para o qual o viajante se destina. 

Desenvolvido pela IBM, O aplicativo Digital Health Pass aplicativo desenvolvido pela IBM funciona como uma carteira digital. Com ela, o viajante pode guardar informações pessoais de saúde e compartilhá-las, segundo a empresa, de forma segura e verificável. Deve servir tanto para viagens internacionais quanto para eventos de entretenimento.

Entraves para a criação de um passaporte de vacinação

O desafio é criar um documento ou aplicativo que seja aceito no mundo inteiro, que proteja a privacidade do viajante e seja acessível a todos.

Para quem não tem smartphone, há a preocupação em padronizar os comprovantes em papel. “Há como fazer isso de um jeito correto ou terrivelmente errado e as maneiras erradas podem nos levar a uma distopia tecnológica”, disse Jenny Wanger, diretora da Linux Foundation Public Health, uma fundação com foco em tecnologia que desenvolve aplicativos de credenciamento de vacinação que sejam acessíveis e equitativos.

Para a pesquisadora, esta documentação deve ser feita de forma transparente e que não fique no controle de qualquer governo ou empresa. “A tecnologia deve ser de código aberto e acessível aos tecnólogos, não importa quem ou onde estejam estas pessoas”, afirmou.

O que pode ser prematuro para se estabelecer um passaporte de vacinação no curto prazo é o desconhecimento da ciência se os imunizantes atuais oferecem proteção adequada para as novas variantes.

União Europeia criou o “passaporte de vacinação” para salvar o verão


A União Europeia apresentou na última quarta-feira (17) o projeto que propõe a forma, organização e especificidades do que está sendo chamado de passaporte de vacinação,   documento que deve facilitar a reabertura do bloco para o turismo. O documento recebeu o nome provisório de “Certificado Verde Digital”, mas não será necessariamente verde e nem somente digital. Haverá também uma versão em papel que contará com um código de barras que trará informações referentes à imunização do viajante. O documento poderá conter comprovante de vacinação, resultado de teste contra a Covid ou um atestado de recuperação da doença. 

O certificado será gratuito, aceito em todos os 27 países-membros da União Europeia e bilíngue, sendo a primeira língua a oficial do país em que o documento foi emitido e a segunda o inglês. No que diz respeito à vacina, o documento deverá trazer o nome do imunizante, o número de doses aplicadas, a data e o local da vacinação. Os cidadãos que receberam doses da BioNTech/Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen terão total liberdade de circulação. Já quem recebeu doses de farmacêuticas ainda não reconhecidas pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), como a Hungria e a Eslováquia, que aplicaram vacinas Sputnik e Sinopharm, caberão ao país membro definir se aceita ou não a vacina aplicada.

O projeto da Comissão Europeia não pretende impor que os cidadãos se vacinem, pelo contrário, no texto há a garantia de que as pessoas que não puderem ou não quiserem ser vacinadas poderão desfrutar da mesma liberdade de circulação dos vacinados, mas com ressalvas. No entanto, as pessoas não imunizadas estarão sujeitas a apresentar testes obrigatórios contra Covid-19 ou cumprir quarentena. 

A União Europeia pretende distribuir até o final de junho 400 milhões de doses de vacinas, o que deve imunizar 200 milhões de pessoas ou o equivalente a 54% da população adulta. O projeto apresentado ainda passará por trâmites legislativos no Conselho e no Parlamento Europeu, em Bruxelas. A expectativa é que o “Certificado Digital Verde” seja aprovado até junho. A criação do documento, que trará mais segurança para os europeus viajarem, pode chegar a tempo de salvar a temporada turística de países que dependem muito do fluxo do verão, como é o caso da Grécia, Croácia e Espanha.

fotos divulgação

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