“O abuso sexual infantil é crime. Disque 100
para denunciar”
Um importante e delicado tema
ganha destaque neste domingo 18 de maio. Hoje é o Dia Nacional de Enfrentamento
ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data que estimula a
reflexão sobre o papel da sociedade civil no combate a esse tipo de crime.
Além da conscientização, uma
das formas mais eficazes de combater abusos e explorações é a denúncia, que
pode ser feita por meio do Disque 100,
um canal da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) que funciona 24 horas
por dia. A ligação é gratuita e a identidade do denunciante é mantida em
sigilo. As denúncias recebidas são analisadas e encaminhadas aos órgãos
responsáveis. Dados da SDH, mostram que em 2017 foram recebidas 22.324
denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. A maior parte
delas – 14,93% – foram feitas do Estado de São Paulo.
Apesar de ser um tema sensível
e muitas vezes silenciado, a violência sexual contra crianças e adolescentes é
mais comum do que se imagina. Estudos mostram que a maioria das vítimas
são meninas e, em grande parte dos casos, o crime ocorre dentro da própria
casa. Um alerta para estarmos atentos aos sinais e criar ambientes seguros para
que crianças e adolescentes possam denunciar e receber o apoio
necessário.
Segundo o Unicef, a violência sexual na infância é uma
crise mundial. Seus efeitos são devastadores: provoca lesões físicas, infecções
sexualmente transmissíveis, traumas psíquicos profundos e, em muitos casos, a
morte.
Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
Em
1973, uma menina de 8 anos, de Vitória (ES), foi sequestrada, violentada e
cruelmente assassinada. Seu corpo apareceu seis dias depois, carbonizado e os
seus agressores nunca foram punidos. Com a repercussão do caso, e forte
mobilização do movimento em defesa dos direitos das crianças e adolescentes, em
18 de maio 1988 foi instituído pela Lei nº 9.970/2.000, como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à
Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Desde então, esse se tornou o dia
para que a população brasileira se una e se manifeste contra esse tipo de
violência.
A infância e a adolescência no Brasil seguem marcadas por desafios estruturais, como pobreza, desnutrição, trabalho infantil e dificuldades no acesso à Educação.
Em março, a Fundação Abrinq apresentou o Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024, publicação atualizada anualmente com dados públicos que refletem a realidade das crianças e dos adolescentes no país, incluindo aqueles relacionados à violência sexual. O estudo traz dados atualizados que evidenciam a urgência de medidas efetivas para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no país.
A Fundação Abrinq possui ainda a
campanha Pode Ser Abuso, cujo objetivo é conscientizar a população sobre o
problema da violência sexual infantil e incentivar o seu combate.
Estudo apresentado na revista The Lancet
Apesar de altos, os dados
brasileiros são inferiores aos de outros países da América Latina. No Chile
(31,4%) e na Costa Rica (30,9%), quase um terço das mulheres relata ter sofrido
esse tipo de violência. Entre os homens, as estimativas são de 14,5% no Chile e
de 19% na Costa Rica.
Este é um dos primeiros
estudos a estimar a prevalência global da violência sexual na infância e
adolescência em 204 países, por idade e sexo, entre 1990 e 2023. Foram
analisadas diversas pesquisas internacionais e incluídos casos de relações
sexuais forçadas ou toques indesejados com conotação sexual ocorridos antes dos
18 anos.
O estudo aponta que no mundo,
18,9% das mulheres e 14,8% dos homens sofreram abuso sexual na infância. Os
maiores índices de violência contra mulheres foram no sul da Ásia, variando de
9,3% em Bangladesh a 30,8% na Índia. Entre os homens, as maiores taxas foram na
África Subsaariana, de 7,9% no Zimbábue a 28,3% na Costa do Marfim.
Os pesquisadores destacam a
dificuldade de saber se as diferenças refletem variações reais na prevalência
ou se são resultado de níveis distintos de notificação. Luisa Flor, professora
assistente da Universidade de Washington (nos EUA) e uma das autoras do estudo,
afirma que os números podem ser ainda maiores devido à subnotificação dos casos
de violência sexual.
“Quem sobrevive à violência
costuma enfrentar barreiras como vergonha, estigma e medo, que dificultam a
denúncia ou a busca por ajuda”, diz.
Segundo a pesquisadora, os
índices do Brasil podem ser explicados pelas desigualdades estruturais e
vulnerabilidades sociais presentes no país, com muitas crianças que vivem em
condições de pobreza ou instabilidade.
Além disso, muitas crianças e
famílias não reconhecem situações abusivas ou desconhecem seus direitos,
sobretudo quando o abuso ocorre dentro de relações ou instituições de
confiança. Isso pode atrasar ou impedir a denúncia, o que prolonga a exposição
à violência.
Dados do Ministério da Justiça
e Segurança Pública mostram que em 2024 foram registrados ao menos 78.395
denúncias de estupro no Brasil -uma média de nove ocorrências por hora. A
maioria das vítimas eram mulheres (67.820). Homens representaram 9.676 dos
casos. Em 899 registros, o gênero não foi informado.
Pesquisas mostram que pessoas
que sofreram abuso sexual na infância e adolescência enfrentam riscos
aumentados de desenvolver transtorno depressivo, ansiedade, uso de substâncias
e álcool e infecções sexualmente transmissíveis.
Muitas vítimas de abuso também
desenvolvem ainda na infância dificuldades cognitivas que persistem na vida
adulta, como problemas de atenção e aprendizado.
A infância violada não é esquecida com o tempo, ela é carregada, sentida, silenciada.
Com informações
da ABRIC e Agencia Brasil
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